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Uma cronica para meu filho

sobre eu, você e o hoje. 

 

  Abri a porta do quarto e um novo mundo se revelou. A vontade de não passar por aquilo era grande. Mas abri a porta e o meu coração para o mundo do meu filho. 

 Com o coração acelerado, a mente perdida e a alma enfraquecida, busco um espaço para a razão e o pensamento concreto. E preciso uma ação.      Estamos num mundo só, pessoas estão totalmente envolvidas com nossas vidas e precisamos passar por isso. Enfrentar o que tem que enfrentar aqui e agora. Então, desconcertada, fecho a porta para esperar o amanhã.  Mas o amanhã demora a chegar, pois um mar de choro marca a passagem entre os dias. 

 E o amanha chega. A bagunça está instaurada em meu coração, em minha mente, em meu espírito. Meu filho esta lá e eu preciso cuidar. Cuidar pra um futuro promissor, cuidar e amar muito, como sempre. O coração dói, mas é preciso agir. 

 Abro novamente a porta para aquele campo de batalha que se abre aos meus olhos. Um campo minado onde não sabemos as armadilhas que nos esperam. 

 O que eu era ontem não sou mais neste dia. O quarto de um filho não é mais apenas um quarto. 

 Entrei já com apenas dois sentimentos: tristeza e amor. 

 As palavras são duras, os ouvidos doem e não querem ouvir, mas precisam. Trocas, dúvidas, desconfiança, insegurança, angustia, decepção, essas são as primeiras coisas que se ouve entrelinhas. 

 E entre falas ditas e não ditas, entre abraços e arrependimentos, entre desculpas e falta de reconhecimento, ao querer ouvir algo que não vem e ouvir o que não pensássemos que ouviríamos, um ser vai se desconstruindo deste lado e outro do outro lado. 

 A dor não some. O choro não cessa. A vontade de não passar por isso é tão grande! Mas seu filho está ali a espera de uma mão estendida que o puxe pra cima. São corações machucados, são mentes lotadas de pensamentos e medos. Mas a mão dada faz toda a diferença. E ela continua ali, estendida a cada dia. Apenas encolhida para enxugar as lágrimas que correm nos olhos e no coração. 

 Estou ao seu lado. Minha raiva começa a se dissipar dando espaço pra esperança de que estaremos juntos, sempre. Aquela porta se abriu pra destruir e reconstruir. E é essa fé e esperança que passa a nos mover pra que, juntos, com as mãos estendidas um ao outro, possamos almejar um futuro juntos. 

 A porta se fecha. E vem o medo. Cada vez que uma porta fecha vem o medo do que possa acontecer. Preciso te contar isso. Quanto medo. Não sei o que tem atrás da porta. 

 Você disse que eu posso confiar. É tudo que quero acreditar. No beijo dado pela manhã, no abraço carinhoso, nas promessas de não haver cadeiras vazias. 

 Meu filho. Você é parte de mim e senti-lo distante dói. Mas sei que é preciso aprender. Aprender a confiar e abrir o mundo pra você. Me dê tempo. Acredito que sei mudar e você também. Acredito no poder que Deus nos deu de ser mãe e ser filho, e de construir futuros promissores. 

 

... 

 

Passa o tempo. Hoje me sinto fortalecida. Foram tantas aprendizagens, pensamentos e tomadas de decisão em tão pouco tempo. 

As consequências chegam. Perdemos e ganhamos com as decisões tomadas, perdemos alguns, ganhamos outros enxergamos outros. Abrimos nossa mente a enxergar um mundo diferente daquele que se fazia perfeito.  

 

 E, escrevendo aqui hoje, refleti e percebi minhas e suas emoções... sonhos em construção, dúvidas de um ser em crescimento, temores de que a vida passe, receios de crescer e ser aquilo que não quer... Claro, você é jovem e isso é normal.  

 E a tristeza foi se diluindo, meu coração foi se enchendo de orgulho de ver o rapaz que criei, tomando nas mãos suas responsabilidades e, ao mesmo tempo, compartilhando comigo seus temores.  

 Ele me fez crescer. Um sentimento profundo de dever cumprido hoje aparece aos meus olhos. Ele cresceu, com princípios e valores de que colheremos o que plantamos. E ele sabe plantar o bem. 

 Percebo hoje, com lagrima nos olhos, quanto foi difícil pra ele também. Suas ações refletiram seu interior, sua necessidade de agir, superar, relaxar, ser e fazer diferente pra que tivesse historias pra contar. 

 E percebo que um dia eu também estive assim. E reconheço: passar da adolescência para a vida adulta requer muita superação. 

 Agora me sinto em paz. Acreditar é tudo que eu tenho de bom. Ele precisa viver. Superar-se. Alcançar seus objetivos. Viver e voar, mas sentira os pés no chão quando necessário. Estaremos aqui sempre ao lado para dar o apoio que precisa. Somos caretas, sim. Ah se somos. Vamos aprender com ele a alçar nossos voos também.  

 Ele nos permitiu sermos pais e mães na integra. Nos ensinou a viver fazendo-nos sentir o mundo dando voltas sem saber quando e onde ia parar. Sofremos, mas aprendemos a amar cada vez mais. E assim vamos aprendendo a criar, a sentir...mais e mais, através dessa sua experiência que é a adolescência.  

 Amor eterno por ele. 

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